A Casa do Empório do Largo e O Restauro da Arquitetura de Morretes

Falar sobre a casa do Empório do Largo, é falar sobre a motivação em valorizar a história da cultura de Morretes. Tudo começou com o restauro da casa onde o restaurante está localizado e a cada dia que passa temos mais orgulho de todo trabalho feito. Defendemos a bandeira da manutenção e do restauro das casas centenárias que caracterizam a arquitetura de Morretes e nesse post vamos contar como tudo aconteceu.

A casa onde está localizado o Empório do Largo é literalmente parte dos 284 anos de Morretes. Construída em 1733, ano da fundação de Morretes, teve como primeiro morador justamente o fundador da cidade, João de Almeida. A casa também foi a primeira construção do dito Largo do Aconchego, por isso, o nome Empório do Largo.

Foi construída utilizando-se alvenaria de pedra e barro na parede frontal, e prováveis divisórias internas com estrutura de adobe, técnica muito utilizada naquele período. Em 1982, o prédio foi adquirido pelo professor de Direito e advogado, Luiz Antonio Peralta, que encampou o projeto de restauro da casa.

Quando o Prof. Peralta adquiriu a casa, encontrou ela em uma situação muito precária devido ao péssimo estado de conservação do imóvel. A construção foi quase destruída por causa de um pequeno incêndio na época em que estava abandonada e estava sendo subutilizada como abrigo para população de rua.

Alguns problemas logo de cara: o madeiramento da cobertura forçava a fachada do prédio, projetando-a para rua com grande possibilidade de ruir. As paredes de madeira que funcionavam como divisórias e o assoalho denotavam seu estado de abandono, fatos que tornaram mais do que necessário uma ação de restauro para o imóvel.

 

A Casa do Empório do Largo: 10 anos de Restauro, Pesquisa e Muita Surpresa!

O objetivo principal do trabalho de restauro era respeitar as características originais da casa. Pela falta de registros históricos, plantas, fotos ou outras informações sobre sua construção, foi exigido muita pesquisa e cuidado. Conforme o trabalho acontecia, revela-se o desenho do imóvel na parte interna e externa pelas ruínas e pedaços que ainda permaneciam.

Dividido em etapas, todo o processo de pesquisa, investigação e realização propriamente dito demorou uma década, o que facilitou sua execução com o investimento necessário para uma recuperação histórica e arquitetônica.

“O terreno é tão grande, muito bem localizado. Não vale mais a pena tirar essa parede velha, fazer dois sobrados ou uma casa nova e mais moderna?”

Preservar e valorizar a arquitetura histórica, infelizmente, não é algo que vemos em nosso país. Afinal, é mais fácil e barato destruir tudo, não é mesmo? Sim, esse foi o pensamento de muitos que presenciaram os 10 anos de restauro.

A curiosidade de quem passava em frente da casa era muito grande, mas o que mais intrigava as pessoas era porque não estávamos aproveitando o potencial construtivo do terreno, e sua localização privilegiada, para construir um novo prédio, moderno, algo comum em nossa Morretes contemporânea.

Porém, essa falta de conhecimento e esse desestímulo funcionou como catalisador do processo de restauro como um todo. “As Casas Velhas resolveram protestar”, trecho do poema “Largo do Aconchego”, escrito pelo poeta morretense Lycurgo Negrão (1916 – 2012), resume bem nosso sentimento (leia o poema completo ao final do post)

 

A Casa do Empório do Largo: Restauro da Cobertura e Telhado

A primeira etapa do restauro foi recuperar toda a cobertura e o telhado. O risco de desabamento era iminente, além disso, tinham inúmeras infiltrações que comprometiam vigas, caibros e  tesouras, bem como o assoalho e as divisórias internas do imóvel. Outro problema era a sobrecarga da fachada.

Aproveitando os dois pilares centrais e as duas vigas principais, foi refeito o madeiramento da cobertura, que conta com caibros de aracáceas, detalhe importante pois é uma das características do método construtivo original. Para reposição das telhas danificadas foi necessário uma busca em toda a região. Por exemplo,  conseguimos telhas guardadas no fundo de quintais dos moradores, telhas descartadas na reforma da Igreja São Benedito e na reforma do telhado da Câmara Municipal.

A Casa do Empório do Largo: Restauro da Fachada e Janelas

Originalmente, a fachada contava com quatro janelas, duas de cada lado, e uma porta central. Em algum momento da sua história, a porta foi fechada para dar lugar a mais uma janela. A intenção era abrir novamente a porta, mas como os moradores e os turistas já se acostumaram com a fachada, uma característica que há anos faz parte da paisagem urbana, decidimos manter a casa com as 5 janelas.

Importante ressaltar: todos os detalhes da fachada e da janela foram restauradas com ferramentas especialmente confeccionadas pelo próprio Luiz Antonio Peralta. Como dito anteriormente, o objetivo era realizar um restauro que mantive-se as características do estilo arquitetônico luso-brasileiro.

LINHA DO TEMPO: DO RESTAURO ATÉ A CRIAÇÃO DO EMPÓRIO DO LARGO

  • 1982 – 1992: Trabalho de Restauro da Casa.
  • 1993 – 2007: Casa locada para diversos restaurantes.
  • 2007 – Mudança do conceito para abrir o Empório do Largo. Construção de dois prédios anexos para abrir a cozinha e demais operações.
  • 2008 – 1º de Maio: Inauguração do Empório do Largo.

Se analisadas de perto, a casa do Empório do Largo tem janelas que contam um pouco da sua história e dos tempos antigos, onde as guilhotinas envidraçadas estão na parte externa com doze vidros,  protegendo as duas folhas de madeira maçica internas. Para auxiliar na segurança e fechamento das janelas, optou-se por um sistema semelhante ao usado na época da construção, constituído de uma peça de madeira atravessada horizontalmente em relação as folhas, que se encaixa em suportes metálicos laterais, fixados no caixilho.

Desde sua abertura, o “Empório do Largo” trouxe de volta a beleza da casa como um todo. Para valorizar a beleza da casa histórica e trazer o aconchego que nomeou o Largo, nosso espaço privilegia a iluminação e a ventilação natural.  Na parte externa da casa, optamos por um amplo deck para receber nossos clientes, com uma vista privilegiada para rio Nhundiaquara.

Se depender de nós, a casa do Empório do Largo e o Largo do Aconchego serão sempre pontos turísticos para provar que a história de Morretes continua de pé.

Nada melhor  do que terminar esse post com o poema do Lycurgo Negrão que comentamos acima:

Largo do Aconchego – Lycurgo Negrão

Largo antigo rodeado de Velhas Casas

aconchegadas umas as outras

a cochicharem coisas do passado.

a segreadrem, também, o sobressalto

que vem causando as casas novas

que ali se intrometeram,

destoando da ancestralidade fidalga

daquele logradouro.

Ah! As casas novas, sem linhagem barroca,

sem o predicatório da tradição,

sem o lustre da história,

E, para evitar novas intromissões

(defendendo a nobreza da estirpe),

as Casas Velhas resolveram protestar,

exortando, em ação popular

o tombamento do Largo.

 

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